Vidas Cruzadas [Parte 5]

Tentei esquecer a cena do Filipe e da sua nova amiga, a verdade é que sentia uma espécie de ciúmes, afinal era com ele que eu estava sempre, saiamos sempre juntos, contava-me as suas coisas mais intimas, os nossos pais eram amigos desde crianças, íamos de férias juntos, eu já tinha dormido na casa dele vária vezes e ele na minha, em quartos separados claro, e a verdade é que não me lembro de nenhum momento da minha vida sem que ele esteja presente, e agora ele parece que desapareceu, não o vi mais, também não o procurei nem lhe mandei nenhuma mensagem, a verdade é que a sua ausência me custava muito, muito mesmo, nunca pensei que a minha vida sem ele fosse tão complicada, nos primeiros dias pensei que ia morrer, mas depois estava a começar aprender a viver sem aquele irmão.
Três semanas se passaram,  significava que já não andava de muletas a uma semana, nessas três duras semanas tentei desviar minha atenção para a escola, e para o Marco, é verdade, ele era sempre muito querido comigo, ajudava-me sempre que me via com as muletas, sempre disponível, nas aulas tentava cativar a atenção de todos os alunos, ate nos propôs fazer-mos uma festa de teatro para começar-mos angariar dinheiro para a nossa viagem de finalistas no 12º ano, para que a viagem fosse a algum país fantástico, a baixo preço, estávamos a pensar no tema da peça, começavam os primeiros testes nos quais obtive excelentes resultados, como nunca tinha tido, e comecei também a dar-me bem e a ter confiança com o pessoal da turma, principalmente com a Rita, o Tiago, a Sara, a Sofia e o Pedro, a Sara e a Sofia eram gémeas. E assim tentei sempre abstrair-me dos problemas.
Chegou o fim de semana, as gémeas andaram toda a semana a falar-me da sua festa de anos, queriam que eu fosse, ia estar la o nosso grupo, o resto da turma, e muitos amigos e amigas delas, achei que era uma boa ideia para esquecer o Filipe, e ate o Marco se conseguisse é claro.
O primeiro passo era convencer os meus pais  e depois de muito custo consegui, o segundo era comprar a roupa,  fui com a Rita a Sofia e a Sara comprar, eu comprei um vestido preto e uma pochete dourada, da cor dos sapatos de salto alto. A festa ia ser divinal, íamos para casa delas, jantávamos la, depois íamos todos para uma discoteca perto da casa delas, e lá cantaríamos os parabéns e comíamos o bolo. Ate que o sábado, o dia da festa chegou, nessa noite de sexta para sábado, sonhei com o Filipe, não me lembro do sonho mas sei que sonhei, acordei com o desejo de o ver, sentia muitas saudades dele, como nunca tinha sentido, ate que ao fim de almoço peguei no telemóvel, engoli o orgulho e escrevi: " Não sei o que se passa contigo, mas sei que não suporto estas saudades que me sufocam, esta noite podias vir a uma festa comigo, ou então que me dizes a um lanche?, deixa-te de coisas e responde". Fui tomar banho, vesti-me maquilhei-me, fumei um cigarro e quando olhei para o telemóvel tinha acabado de receber uma mensagem, " Desculpa mas já tenho coisas marcadas", atirei-me para cima da cama e chorei, desliguei o telemóvel, não sei como era possível, parecia que me tinham arrancado algo. Ouvi bater a porta.
- Madalena ( mãe da Catarina): Posso querida?
- Catarina: Põe-te la fora não quero ver ninguém.
Ela entrou, sentou-se ao pé de mim, deu-me a mão para me levantar e deitou a minha cabeça no peito dela.
- Madalena: Não fiques assim querida, não me quero meter na tua vida, mas não te quero assim meu amor.
- Catarina: É tão difícil mãe.
- Madalena: A vida tem coisas destas querida, tu daqui a pouco tens ai as tuas amigas para irem a tal festa, anda a mãe vai ajudar-te a limpar essa cara.
A minha mãe era um doce, no fundo sabia muito bem que eu e o Filipe a muito que não nos víamos, e sabia bem o que me custava, limpei bem a cara, voltei a maquilhar-me, vesti-me para a festa e esperei pelas gémeas  que me vinham buscar. Tentei esquecer o Filipe, e o que queria era divertir-me.

continua